25.12.06

Judeus Errantes!


Por Jonathan Saul JERUSALÉM (Reuters) - Líderes judaicos de todo o mundo execraram seis judeus de barbas longas e chapéus pretos que apareceram abraçando o presidente do Irã numa recente conferência que questionava o Holocausto.
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, causa preocupação entre os judeus por seus comentários desde que chegou ao poder, em 2005, como ao qualificar o Holocausto de 'mito' e defender que Israel seja 'eliminado do mapa'.
Apesar disso, um pequeno grupo de judeus participou da conferência deste mês em Teerã, sob a bandeira do Neturei Karta, um movimento ultra-ortodoxo que não reconhece a existência de Israel e defende o seu fim. Segundo analistas, esse movimento tem apenas cerca de cem integrantes.
Eles acreditam que os judeus devem continuar sem um Estado até a vinda do Messias e consideram o movimento sionista - que estabeleceu Israel - como uma abominação perante Deus, por fundar um Estado prematuramente.
Mesmo antes da conferência, o Neturei Karta já havia irritado outros judeus por apoiar o falecido líder palestino Yasser Arafat e por manter relações com o grupo islâmico Hamas.
Os seis participantes judeus da conferência do Irã se consideram parte da comunidade haredi, uma ala muito conservadora do judaísmo, cujo nome em hebraico significa aqueles que temem o pecado.
Até no bairro ultra-ortodoxo de Mea Sharim, em Jerusalém, onde vivem muitos inimigos do Estado judeu - inclusive alguns que compartilham das crenças anti-sionistas do Neturei Karta -, há quem considere que a participação na conferência de Teerã passou dos limites.
'Embora não concordemos com o Estado secular de Israel, essas pessoas dessacralizaram o nome de Deus', disse Haim Freid, judeu ultra-ortodoxo que vive em Mea Sharim. 'Eles não nos representam.'
Uma porta-voz do Yad Vashem, memorial israelense do Holocausto, disse que o grupo é 'uma infeliz caricatura que foi usada como arma de propaganda pelo regime iraniano'.
Yona Metzger, rabino-chefe ashkenazita de Israel, pediu a seus colegas de todo o mundo que proíbam os participantes judeus - que são dos EUA e da Europa - de entrarem em sinagogas.
A entidade Agudath Israel da América, que representa dezenas de milhares de ultra-ortodoxos nos EUA, disse que, apesar do seu figurino, os seis são 'uma desgraça' e 'perigosos' para os judeus.
Durante a conferência, o rabino Aharon Cohen disse que a Alemanha nazista havia mantido 'uma política catastrófica e uma ação de genocídio' contra os judeus, mas que é questionável quantos milhões pereceram -- a maioria dos historiadores diz terem sido 6 milhões.
O líder da Neturei Karta em Israel, o auto-intitulado rabino Yisrael Hirsch, disse que 'dói quando as pessoas negam que o Holocausto aconteceu', mas que a participação dos judeus em Teerã foi importante.
'O propósito foi revelar a todo o mundo que os iranianos não têm qualquer ódio pelos judeus, eles só se opõem ao sionismo como nós', disse ele, cercado por volumes de escrituras judaicas sagradas em sua modesta casa de Mea Sharim.'Quisemos mostrar que o sionismo não representa o povo judeu.'
Hirsch, 51 anos, um norte-americano que rejeitou a liderança israelense, disse que não pôde ir a Teerã porque vive em Israel. O Irã não concede vistos a pessoas que tenham carimbos israelenses em seus passaportes. O pai de Hirsch, o rabino nova-iorquino Moshe, foi assessor de Arafat para assuntos judaicos.
Neturei Karta significa 'guardiões da cidade' em aramaico.O grupo foi formado na década de 1930 em Jerusalém, como contenção ao movimento sionista que se espalhava pela Palestina -- então um protetorado britânico.
A influente seita Satmar Hassídica, que também se opõe ao Estado de Israel e considera o sionismo uma 'tentação idólatra', é uma tradicional aliada do Neturei Karta, mas vem se distanciando do movimento.
Líderes da Satmar nos EUA consideraram a participação na conferência de Teerã como 'atos de loucura' e pediram a seus seguidores e a outros judeus que rejeitem 'os que dão o sinal verde para derramar o sangue judeu'.
Muitos ultra-ortodoxos acham que Moshe Hirsch, hoje menos visível na Neturei Karta, desviou o movimento dos seus princípios e representa uma dissidência ao se aproximar de militantes islâmicos como os do Hamas.
Israel Eichler, ex-parlamentar israelense e famoso comentarista haredi, descreveu suas atividades como 'anacrônicas' e 'anárquicas'.
'Mesmo os rabinos anti-sionistas declararam que ao encarar o mundo externo nós precisamos apresentar uma frente unida [com o Estado de Israel]', afirmou.
Yisrael Hirsch não se abala com tais argumentos. 'A maioria do mundo haredi se opõe ao sionismo em princípio', disse ele.'Temos certeza de que um dia Israel deixará de existir, assim como a União Soviética.'

Um comentário:

Daniele El Seoudi disse...

Caro amigo (a),

Tomei a liberdade de adicionar o link do seu blog no meu blog. Gostaria que se pronunciasse. Caso não permita, poderei retirá-lo.

Cordialmente,

Daniele El Seoudi.