19.12.06

Idomeneo: Mozart x Fanatismo!



BERLIM (Reuters) - O público da Deutsche Oper, de Berlim, foi recebido na segunda-feira por detectores de metal, policiais e pela mídia para um espetáculo que havia sido cancelado, por temores de que muçulmanos poderiam se ofender com uma cena apresentando a cabeça cortada do profeta Maomé.
Autoridades advertiram que a cena em "Idomeneo", de Mozart, que inclui também cabeças decepadas de Jesus, Buda e Poseidon, poderia provocar represálias violentas, apesar de grupos muçulmanos terem minimizado as preocupações.
Um porta-voz da polícia de Berlim disse depois da apresentação de segunda-feira que não foram registrados incidentes.
Houve uma reação mista em relação à cena polêmica, que dura pouco mais de um minuto, no final da ópera, depois que termina a música.
O rei Idomeneo entrou no palco com uma sacola manchada de sangue contendo as quatro cabeças. Ele as coloca sobre cadeiras e a de Maomé é a última.
Quando ele apareceu, houve um grito de "Pare!". Outro membro da platéia gritou em seguida "Muito bem!" e surgiu um pouco de aplauso.
Diversas pessoas vaiaram e ouviram gritos de "Bravo!" como resposta, seguidos por fortes aplausos para os cantores e músicos no final.
A diretora da Ópera, Kirsten Harms, disse que a reação do público à cena, destinada a simbolizar a libertação do povo, sem deuses ou ídolos, foi "muito civilizada".
"Nesta noite, a arte esteve novamente à frente", afirmou ela à Reuters. "Espero que agora termine todo este furor na mídia."

A decisão da ópera alemã de cancelar a apresentação em setembro provocou críticas entre artistas e políticos, incluindo da chanceler (primeira-ministra), Angela Merkel. Ela afirmou que a Alemanha não pode curvar-se diante da ameaça de terrorismo.
Diretores da produção saudaram a mudança de atitude.
"Estou aqui para mandar um sinal de apoio à liberdade de valores e à tolerância de culturas", disse Maria Boehmer, representante do governo alemão para assuntos estrangeiros.
Dezenas de jornalistas do mundo inteiro concentraram-se na frente do prédio antes da apresentação, em número maior do que o de policiais e manifestantes, que incluíam cristãos e simpatizantes da tolerância religiosa.
Detectores de metal do mesmo tipo dos usados em aeroportos foram instalados na frente da entrada principal, operados por uma empresa particular.
O ministro do Interior, Wolfgang Schaeuble, foi à apresentação de segunda-feira, acompanhado por membros de grupos muçulmanos da Alemanha, apesar de o Conselho Central Muçulmano não ter ido.
"É parte do conceito de liberdade de opinião", afirmou à Reuters Aiman Mazyek, secretário-geral do conselho.
Muitos dos 3,5 milhões de muçulmanos da Alemanha dizem que o caso da ópera prejudicou o debate sobre a integração à sociedade.
A preocupação com o radicalismo islâmico na Europa vem crescendo e os muçulmanos da Alemanha reclamam da islamofobia, principalmente desde que a polícia prendeu dois libanesess suspeitos de tentativa de colocar bombas em trens no país, em julho.

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