31.3.07

As duras opções da Europa - 1ª Parte.



As antigas relações da Europa com sua crescente minoria muçulmana, a questão mais crítica no continente, seguirão uma dessas 3 vias: a da integração harmônica, a da expulsão dos muçulmanos, ou da dominação pelo Islã. Qual desses cenários é mais provável que ocorra?
O futuro da Europa é de uma imensa importância não somente para seus habitantes. Durante meio milênio, de 1450 a 1950, esses 7 por cento das terras secas do mundo guiou a história do mundo; sua criatividade e vigor inventaram a modernidade. A região pode já ter perdido essa posição decisiva há 60 anos mas continua tendo uma importância crucial em termos econômicos, políticos e intelectuais. A direção que tomar tem, portanto, enormes implicações para o resto da humanidade e especialmente para as nações que dela surgiram, como os Estados Unidos, que historicamente têm a Europa como fonte de idéias, pessoas e bens.
Segue uma avaliação da probabilidade de cada cenário.
I. Governo Muçulmano
A falecida Oriana Fallaci observou que, com o passar do tempo, "a Europa se torna crescentemente uma província do Islã, uma colônia do Islã". A historiadora Bat Yeor denominou essa colônia de "Eurábia". Walter Laqueur prevê, em seu "Last Days of Europe" ["Os Últimos Dias da Europa"], no prelo, que a Europa que conhecemos está fadada a se transformar. Mark Steyn, em "America Alone: The End of the World as We Know it" ["Os Estados Unidos a sós: o fim do mundo como o conhecemos"], vai mais longe e defende que boa parte do mundo ocidental "não sobreviverá ao século XXI, e boa parte irá efetivamente desaparecer antes de morrermos, inclusive muitos, se não a maioria dos países europeus". Três fatores – fé, demografia e senso coletivo de patrimônio cultural [sense of heritage] - indicam que a Europa está sendo islamizada.
Fé: um secularismo extremado predomina na Europa, sobretudo entre as elites, ao ponto de cristãos praticantes (como George W. Bush) serem vistos como mentalmente desequilibrados e inadequados para um cargo público. Em 2005, negou-se a Rocco Buttiglione, um ilustre político italiano e católico convicto, um cargo de comissário italiano na União Européia devido a suas posições em questões como a homossexualidade. Secularismo arraigado também significa igrejas vazias: em Londres, estimam os pesquisadores, mais muçulmanos freqüentam as mesquitas às sextas-feiras que cristãos as igrejas aos domingos, embora a cidade abrigue cerca de 7 vezes mais pessoas advindas de lares cristãos do que de muçulmanos. Enquanto o Cristianismo definha, o Islã atrai; o príncipe Charles exemplifica o fascínio de muitos europeus pelo Islã. Pode haver muitas conversões no futuro da Europa, pois, como no aforismo atribuído a G. K. Chesterton: "Quando os homens deixam de acreditar em Deus, eles não acreditam no nada; acreditam em qualquer coisa".
O secularismo europeu dá a seu discurso formas que são relativamente desconhecidas pelos americanos. Hugh Fitzgerald, ex-vice-presidente do JihadWatch.org, ilustra uma dimensão dessa diferença:
"As declarações mais memoráveis dos presidentes americanos quase sempre incluíram frases bíblicas identificáveis. (...) Essa fonte de força retórica se manifestou em fevereiro passado [2003], quando explodiu o ônibus espacial Columbia. Não fosse um ônibus americano, e sim francês, que tivesse explodido, e Jacques Chirac tivesse de fazer o discurso, ele poderia muito bem ter-se referido ao fato de que havia sete astronautas e evocado a imagem das Plêiades, assim denominadas na Antigüidade pagã. O presidente americano, em um cerimonial nacional solene, que iniciou e terminou com o hebraico bíblico, agiu de forma diferente. Retirou seu texto de Isaías 40:26 que levou a uma imperceptível passagem da combinação de admiração e reverência diante das hostes celestiais trazidas pelo Criador para o conforto diante da perda mundana da tripulação".
A fé fervorosa dos muçulmanos, com a conseqüente sensibilidade jihadista e o supremacismo islâmico, não poderia ser mais diferente da fé dos apóstatas cristãos da Europa. Esse contraste leva muitos muçulmanos a ver a Europa como um continente pronto para a conversão e o domínio. Seguem disso exorbitantes afirmações de supremacia, como a de Omar Bakri Mohammed: "Quero que a Grã-Bretanha se torne um estado islâmico. Quero ver a bandeira do Islã erguida no número 10 da Rua Downing". Ou a previsão de um imã da Bélgica: "Logo assumiremos o poder nesse país. Aqueles que agora nos criticam vão se arrepender. Terão de nos servir. Preparem-se, pois a hora está próxima" [1].
População: implosão demográfica também indica uma Europa se islamizando. A taxa total de fertilidade na Europa hoje em dia está, em média, em cerca de 1,4 por mulher, enquanto para se manter a população é necessário um pouco acima de 2 crianças por casal, ou 2,1 criança por mulher. A taxa atual é apenas dois terços do que precisa ser; um terço da população necessária simplesmente não está nascendo.
Para evitar uma aguda diminuição da população, com todo o sofrimento que isso implica - e, especificamente, a falta de trabalhadores para financiar os generosos planos de pensão -, a Europa precisa de imigrantes - muitos deles. A terça parte importada da população tende a ser muçulmana, em parte porque os muçulmanos estão por perto - são somente 13 quilômetros do Marrocos até a Espanha, somente uns duzentos para chegar à Itália da Albânia ou da Líbia; em parte porque os laços coloniais continuam ligando o Sul asiático à Grã-Bretanha ou o Magrebe à França; e em parte devido à violência, tirania e pobreza que dominam o mundo muçulmano hoje, o que provoca ondas e mais ondas de emigração.
Da mesma forma, a alta fertilidade dos muçulmanos complementa a escassez de crianças entre os cristãos locais. Embora a taxa de fetilidade muçulmana esteja caíndo, ela continua significativamente mais alta do que a da população nativa da Europa. Sem dúvida, as altas taxas de natalidade têm algo a ver com as circunstâncias pré-modernas em que muitas mulheres muçulmanas da Europa se encontram. Em Bruxelas, "Muhammad" já é há alguns anos o nome mais popular entre os bebês do sexo masculino, enquanto Amsterdã e Roterdã estão a caminho de ser, até cerca de 2015, as primeiras grandes cidades européias com população majoritariamente muçulmana. O analista francês Michel Gurfinkiel estima que uma guerra de rua étnica na França iria encontrar os filhos de "indigénes" e de imigrantes em uma relação de aproximadamente 1 para 1. As previsões atuais vêem uma maioria muçulmana no exército russo até 2015 e no país como um todo até cerca de 2050.
Senso coletivo de patrimônio cultural: o que geralmente é caracterizado como sendo o politicamente correto europeu reflete o que acredito ser um fenômeno mais profundo, a saber, o alheamento de muitos europeus em relação a sua civilização, uma noção de que não vale a pena lutar por sua histórica cultura ou sequer conservá-la. É impressionante perceber as diferenças nesse quesito dentro da Europa. Talvez o país menos disposto a esse alheamento seja a França, onde o nacionalismo tradicional ainda exerce grande influência e os franceses se orgulham de sua identidade. A Grã-Bretanha é o país onde esse alheamento é maior, como simboliza o patético programa de governo "ICONS – A Portrait of England” [ÍCONES – Um Retrato da Inglaterra], que espera, de forma capenga, reviver o patriotismo conectando os britânicos a seus "tesouros nacionais", como o Ursinho Pooh e a mini-saia.
Essa timidez tem implicações diretas e adversas para os imigrantes muçulmanos, como Aatish Taseer explicou na revista Prospect:
"A britanidade é o aspecto de identidade mais insignificante para muitos jovens britânicos de origem paquistanesa. (...) Se se vilipendia sua própria cultura, corre-se o risco de os mais recém-chegados irem procurar por uma em algum outro lugar. Tão distante, nesse caso, que para muitos da segunda geração de britânicos com essa origem, a cultura do deserto dos árabes lhes era mais atraente do que a cultura britânica ou do sub-continente. Apartados três vezes de um senso de identidade consistente, a vigorosa perspectiva extra-nacional do Islã radical tornou-se uma identidade à disposição dos paquistaneses de segunda geração".
Os imigrantes muçulmanos têm um enorme desdém pela civilização ocidental, especialmente quanto à sexualidade (pornografia, divórcio e homossexualidade). Os muçulmanos não estão sendo assimilados em nenhum lugar da Europa, raramente ocorrendo casamentos cruzados. Um interessante exemplo do Canadá: a mãe da infame prole dos Khadr conhecida como a primeira família terrorista do país, voltou do Afeganistão e do Paquistão para o Canadá em abril de 2004 com um de seus filhos. Apesar de estar pedindo asilo no Canadá, ela insistia publicamente, apenas um mês antes de fazer o pedido, que os campos de treinamento financiados pela Al-Qaeda eram o melhor lugar para seus filhos. "Você quer que eu crie meus filhos no Canadá para, quando chegarem aos 12 ou 13 anos de idade, usarem drogas ou tenham relações homossexuais? Isso é melhor?"
(Por ironia, em outros séculos, como documentou o historiador Norman Daniel, os cristãos europeus menosprezavam os muçulmanos com suas múltiplas esposas e haréns, por serem hipersexualizados, sentindo-se assim moralmente superiores).
Resumidamente: esse primeiro argumento mantém que a Europa será islamizada, submetendo-se silenciosamente ao status de dhimi ou convertendo-se ao Islã, pois o yin da Europa e o yang dos muçulmanos se encaixam muito bem: baixa e alta religiosidade, baixa e alta fertilidade, baixa e alta confiança cultural.[2] A Europa é uma porta aberta pela qual os muçulmanos estão adentrando.
Publicado por danielpipes.org
Tradução: Caio Rossi

29.3.07

O ela da Al Qaeda no Brasil!


Na manhã de segunda-feira, 4 de dezembro de 1995, o egípcio de Ashraf Refaat Nabih Henin se apresentou na alfândega do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, com um passaporte paquistanês (113107), expedido pela Embaixada do Paquistão em Abu Dhabi 17 meses antes. Turista — informava o visto de entrada (número 194-95) concedido pela embaixada brasileira em Kuala Lumpur, Malásia. No mesmo aeroporto embarcou em outro avião, rumo a cidade de Foz do Iguaçu (PR), na fronteira do Brasil com o Paraguai e a Argentina, onde foi recebido com deferência e hospedado por Khaled Razek Al-Sayd Tak el-Din, o chefe religioso da comunidade sunita.
Por 20 dias, até a véspera do Natal de 1995, Henin fez parte da paisagem como mais um muçulmano em férias nas Cataratas, a dez mil quilômetros de distância do seu escritório na Konsojaya Trading Company, empresa malaia especializada na exportação de óleo de palma para o Afeganistão. Sete anos depois descobriu-se que se chamava Khalid Sheikh Mohamed, o real entre os 27 nomes em passaportes de origem variada, e era o chefe militar da al-Qaeda de Osama bin Laden. Foi ele quem coordenou os ataques às Torres Gêmeas, em Nova York, e à sede do Pentágono, em Washington. Capturado em 2003, está preso na base americana em Guantánamo, Cuba. A Konsojaya era uma das poucas coisas autênticas no disfarce de Henin, criado por Khaled. Nascera um ano antes, pelas mãos de Riduan Isamuddin, também conhecido como Hambali, e sua mulher Noralwizah Lee Abdullah, uma sino-malaia. Isamuddin, ou Hambali, recém-fundara a Gamaa al-Islamiyah, grupo radical do Egito.Na diretoria da empresa instalou, oficialmente, dois afegãos e um saudita, Yemeni Amein Mohamed, todos integrantes da Gamaa al-Islamiyah.
A ligação entre o chefe militar da alQaeda e o líder sunita el-Din foi registrada em documentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) repassados a governos da região — atesta Carlos Corach, ministro argentino do Interior nessa época. El-Din, orador inflamado, nunca ocultou na comunidade sua militância com organizações egípcias como Irmandade Muçulmana e al-Islamiyah, duas vertentes da origem da rede alQaeda. Também não negava ser um representante do Hamas na tríplice fronteira. Com a ajuda de Khaled Sheik Mohamed ajudou a criar a sucursal local da Holy Land Foundation (Fundação Terra Santa), entidade beneficente listada pelo governo dos EUA como uma das fontes de financiamento do grupo de Bin Laden. Suspeito de ataque foi preso em Chuí. Quatro anos mais tarde, em janeiro de 1999, agentes dos órgãos de segurança de Brasil, EUA e Uruguai cercaram o cidadão egípcio Al-Sa’id Ali Hasan Mokhles em Chuí (RS), quando tentava atravessar a fronteira com documentos falsos (carteira de identidade paraguaia 3.593.929 em nome de Ali Subhi AlShakaki, emitida em 12 de julho de 1994).Mokhles foi preso sob acusação de participar no atentado dos grupos Gamaa Islamiyah e Jihad Talaat al-Fath em Luxor, no Egito. Ali, junto a edifícios milenares, foram metralhados 62 turistas. Com a extradição pedida pelo governo egípcio, Mokhles contou a razão daquela viagem interrompida: ia a Londres, por Montevidéu, para uma reunião da Gamaa Islamiyah. Anos depois descobriu-se que nessa reunião foi sacramentada a união do grupo com Bin Laden, formando a rede al-Qaeda.Mokhles permaneceu meses preso A ligação entre militar da allíder sunita registrada documentos preso no Uruguai até ser extraditado. Seu caso levou o governo uruguaio a mudar as leis sobre terrorismo.
Na comunidade muçulmana de Foz do Iguaçu foram impactantes as revelações sobre o seu ativismo político e negócios obscuros. Mokhles era casado com uma irmã do líder religioso sunita el-Din. Estavam associados em vários empreendimentos. Meses mais tarde, el-Din foi cercado em outro ponto da fronteira Brasil-Paraguai, na cidade de Encarnación. Ele escapou e, supostamente, agora vive em São Paulo.
A devassa nos negócios de Mokhles na tríplice fronteira mostrou ligações com o caixa do “clã” Dahroug.Por anos Mohamed Dahroug manteve uma perfumaria em Ciudad del Este, com capital registrado de US$ 800.Mas fez remessas superiores a US$ 10 milhões, por bancos de Foz, para contas da Holy Land Foundation no Texas. Parte do dinheiro foi destinada ao Hamas e à al-Qaeda, conforme consta na investigação aberta pelo FBI e pela promotoria de Dallas.Doações para família de ‘mártir’. O nome do “clã” Dahroug também reluzia em uma das agendas encontradas com Abu Zubaydah, preso pela CIA no Paquistão em 2002. A prisão de Zubaydah chegou a ser publicamente comemorada pelo presidente George W. Bush como a primeira grande ofensiva sobre a cúpula da al-Qaeda. Mas o exame de seus objetos pessoais, inclusive um diário, revelou que ele era apenas uma espécie de agente de viagens do grupo de Bin Laden e portador de graves problemas psicológicos — como tripla personalidade. O confronto dos dados encontrados em dois extremos do planeta, Paraguai e Paquistão, mostrou um sobrinho de Mohamed Dahroug, o comerciante Ali Nizar, residente em Foz, como autor de várias remessas a partir de uma sociedade com Hattem Barakat. Hattem é parente e sócio de Assad Ahmad Barakat, que foi preso no Brasil e extraditado para Assunção em 2002, onde cumpre pena por lavagem de dinheiro. Para os EUA, Barakat foi um tesoureiro do Hezbollah na América do Sul. Supostamente coordenou remessas em soma superior a US$ 150 milhões num período de sete anos.O “clã” Barakat mantinha negócios com Sobhi Mahmoud Fayad, também residente em Foz. Condenado a seis anos de prisão no Paraguai, por evasão fiscal, Fayad já cumpriu dois terços da pena e, agora, pleiteia liberdade condicional. Entre seus documentos foi encontrada a prestação de contas da organização “O Mártir”, criada pelo falecido aiatolá Khomeini depois da guerra Irã-Iraque. Ela custeia a manutenção das famílias de “mártires” da guerra iraniana e, também, da guerra palestina (veja reprodução ao lado). Hattem Barakat é respeitado nos grupos radicais da região por sua proximidade com o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. Registros dos órgãos de segurança do Paraguai indicam que, em janeiro de 2001, Hattem foi hóspede de Nasrallah numa das residências do chefe político libanês, em Bourj Hammoud.Desde então, parte dos negócios dos Barakat foi dirigida em parceria com o indiano Rajkumar Naraindas Sabnani, proprietário de empresas em Hong Kong, Praga, e escritórios em Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Buenos Aires. Naraindas é procurado pela Justiça paraguaia por pirataria e contrabando, entre outras atividades atribuídas à máfia de Hong Kong na tríplice fronteira.

27.3.07

O terror segundo John Updike

O escritor americano John Updike tornou-se conhecido como cronista da medíocre vida dos americanos de classe média, especialmente os moradores das cidades secundárias do Leste. Tal interesse, porém, nunca desviou seu olhar da realidade, que surge de forma impactante na maioria de suas histórias. Assim, após a reviravolta mundial provocada pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, ele se voltou para a incômoda reação islâmica - não como um simples crítico, mas principalmente como um intelectual interessado em descobrir as causas de tanto atrito, sem jamais esquecer o ponto de vista do outro.
Tanto interesse resultou no romance "Terrorista", surpreendente obra que chegou nesta semana às livrarias brasileiras, em edição da Companhia das Letras (336 págs.). Continua ali seu interesse em traçar um panorama da vida dos americanos comuns, especialmente suas pequenas paixões e misérias. Updike, no entanto, escolheu como protagonista Ahmad, um adolescente filho de mãe irlandesa e pai árabe, que se converte ao Islã e, aos poucos, é atraído pelo mundo do terrorismo internacional.
'Hoje vivemos em um mundo que não oferece aos jovens razões suficientes para viver', comentou Updike em entrevista ao Estado, realizada por telefone, desde sua residência em Arizona. De fato, com o desalento provocado pela educação falha, o escritor faz com que a atenção do jovem Ahmad seja disputada por dois mentores.
De um lado, o orientador educacional de sua escola, Jack Levy, um judeu nada religioso, desgostoso com a própria vida, mas que o aconselha a seguir os estudos até a faculdade. Do outro, o xeque Rashid, imã da mesquita freqüentada pelo rapaz, religioso vinculado ao terrorismo internacional que o convence a entrar no combate, participando de um atentado suicida. A rejeição do capitalismo e dos valores da sociedade americana movem a história, cujo final, tal qual um thriller, caminha para uma surpresa.

22.3.07

Escolas britânicas contra o véu


As autoridades britânicas, até então muito liberais em relação ao uso do véu, decidiram nesta terça-feira divulgar diretrizes que autorizam claramente os diretores de escolas a banir o niqab, o véu integral, em meio a vários processos.
O sistema escolar britânico, que aceita o uso do hidjab, o véu que deixa a face descoberta, teve que se adequar aos processos na justiça após um estabelecimento ter proibido uma aluna de 12 anos de usar o véu integral, que deixa de fora apenas os olhos.
"As escolas devem agir razoavelmente para se adaptar às exigências religiosas, com a condição de que não representem uma ameaça para a segurança e o aprendizado, ou não comprometam o bem-estar de toda a comunidade escolar", informou o departamento para educação e talentos.
Estas diretrizes, que pedem também que escolas não adotem uniformes muito caros, esclarecem a situação, explicou uma porta-voz do departamento, afirmando que os diretores de estabelecimentos continuam livres para proibir ou não o niqab.
As novas diretrizes serão aplicadas às escolas públicas e, inclusive, às escolas religiosas, mas não às escolas particulares.
O documento informa que as escolas podem banir o uso do véu se este impedir "um professor de avaliar a atenção de uma aluna".
"As escolas devem ser capazes de identificar os alunos para manter a ordem e identificar intrusos", revela o documento.
Massud Shadjareh, presidente da Comissão Islâmica dos Direitos Humanos se declarou consternado por essas diretrizes.
"Aplicar as diretrizes contra as comunidades muçulmanas é simplesmente chocante", declarou.
O Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha (MCB), que fornece suporte à maior parte das associações muçulmanas do país, havia divulgado suas próprias recomendações às escolas em fevereiro.
Ele sugeria que os alunos muçulmanos fossem autorizados a usar barba ou vestimentas islâmicas para permitir a melhor expressão de suas práticas religiosas.
Os desejos dos muçulmanos não são mais levados em consideração pelas escolas públicas em relação ao programa de educação sexual, à presença de vestiários individuais, aos tempos de oração, às refeições halal ou às aulas de natação, considerou o Conselho.
John Dunford, secretário geral do sindicato de professores ASCL, saudou a iniciativa das autoridades, frisando que a análise destas diretrizes pelas escolas permitirá a elas "conseguir esclarecimentos a respeito do uso dos véus ou de outras vestimentas religiosas".
O debate sobre o uso do véu foi iniciado em outubro de 2006 pelo ministro das Relações Exteriores, Jack Straw, que havia declarado não se sentir à vontade em relação ao uso do niqab pelas mulheres.
Ele ganhou força com o caso de Aishah Azmi, uma professora auxiliar britânica, suspensa em 2005 por ter se recusado a retirar seu niqab em classe.
A escola na qual lecionava considerou que as crianças não compreendiam Azmi por ela usar o niqab. Ela perdeu um primeiro recurso no Tribunal do Trabalho em outubro e sua apelação está sendo examinada.
O debate chegou ao seu ponto máximo em fevereiro quando a Alta Corte de Justiça apoiou a decisão de um colégio de Birmingham de proibir o uso em sala de aula do niqab por uma aluna de 12 anos, que tornou sua comunicação com os professores mais complicada.
Outras escolas britânicas ainda autorizam o niqab e adaptaram sua política de uniformes para aceitar o uso do vestido islâmico e das túnicas.

O Corão ou a Lei?


A revelação de que uma juíza alemã se recusou a conceder o divórcio imediato a uma mulher de origem marroquina agredida pelo marido, sob a alegação de que o Corão não condena este tipo de tratamento, provocou muita polêmica na Alemanha.
A notícia ocupa a primeira página de quase todos os jornais alemães e é destaque em todas as emissoras de televisão de informação contínua.
"Onde vivemos? Uma juíza autoriza as agressões entre cônjuges e se refere ao Corão", estampa o Bild, jornal de maior tiragem do país.
"Em nome do povo: as agressões estão autorizadas", afirma o jornal de esquerda Taz, que publica na primeira página um trecho do versículo 34 da quarta sura (capítulo) do Corão: "Àquelas de quem temais desobediência, admoestai-as, confinai-as nos seus aposentos, castigai-as."
Um tribunal de Frankfurt aprovou na quarta-feira um recurso apresentado pelo advogado da mulher de 26 anos, mãe de dois filhos, para destituir a juíza alemã. Um novo magistrado assumirá o caso.
O Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha reagiu imediatamente, ao afirmar que a juíza deveria ter se referido à Constituição alemã e não ao Corão. Também lembrou que no Islã tanto a violência como os maus-tratos são motivo de divórcio.
Os políticos alemães também demonstraram revolta e condenaram publicamente a atuação da juíza.
"Quando o Corão é elevado acima da Lei Fundamental alemã, então não me resta mais que dizer: boa-noite Alemanha", declarou o secretário-geral da União Democrata Cristã (CDU), Ronald Pofalla, partido que integra a coalizão de governo.
"Seus argumentos são tão insuportáveis que não seriam em nenhum caso considerados, mesmo do ponto de vista de uma eventual interpretação do direito e da lei", critica na edição on-line da revista Der Spiegel o ministro do Interior da Baviera, Guenther Beckstein, da União Social Cristã bávara (CSU).

15.3.07

Elas no poder!

Georgina Bush, the Supertop Miss Imperatrix Mundi...


Antoniette Blair, a Dama de Ferro...



Baranga Obama Summer



Colina Powell




Valeska Putinnha


Mahmoud Al-Sherazad, a rainha do deserto...

Sua Alteza Real, Princesa Charlote...

Kim Jong Lili, a atômica mulher dragão...

Nicole Sarkozy, femme fatale...

Silvia Berluscone, bella donna!...

Madame Chirac, chiquérrima...
Dona Luiza Ignácia, ô coitada!...



9.3.07

Sanções ao Irã


Decadência e Islamização


Desde Freud: The Mind of a Moralist (1959), Philip Rieff (1922-2006) foi reconhecido como um dos mais importantes pensadores americanos. Sua última obra, My Life Among the Deathworks (University of Virginia Press, 2006), analisa a cultura como expressão da ordem divina. Ela pode nos servir de ponto de partida para explicar por que a pretensa "civilização laica" não tem como desembocar em nenhum paraíso global de justiça e prosperidade, mas só na dominação universal do islamismo. A premissa de My Life Among the Deathworks é a admissão de que em toda cultura há uma série inumerável de palavras e símbolos que desfrutam de autoridade pública automática. São a tradução de verdades que não estão aí para ser provadas ou impugnadas: elas estruturam a nossa vida de todos os dias para muito além da nossa capacidade de reflexão consciente. Evocam a nossa obediência imediata e despertam em nossa alma sentimentos de culpa e inadequação quando as infringimos. Ao conjunto delas Rieff denomina "ordem sacra". A educação doméstica, as regras de boas maneiras, as hierarquias administrativas, a política, o gosto literário e artístico, tudo numa cultura é "transliteração da ordem sacra numa ordem social". Examinar criticamente esses símbolos desde o ponto de vista da razão individual, da filosofia ou da "ciência" é legítimo, mas é uma atividade que transcorre dentro da cultura e balizada por ela. Seu alcance, portanto, é limitado: nenhum saber individual pode substituir-se à cultura como um todo. O máximo de profundidade que a sondagem dos símbolos pode alcançar é aquela que se observa na psicanálise (independentemente do conteúdo específico das teorias de Freud): a penetração do exame racional nas brumas do inconsciente, para desativar a sobrecarga de autoridade de símbolos sacrais. Estes são absolutamente necessários à cultura, mas à medida que o tempo passa eles se consolidam em formas de autoridade interiorizada cujo peso acumulado se torna opressivo. A psicanálise desata os nós da sobrecarga, liberando o indivíduo para reintegrar-se na ordem social, não para sair dela.Na evolução histórica do Ocidente, Rieff identifica três ordens sacrais sucessivas, que ele chama de "mundos". Na cultura do mundo antigo, greco-romano, potências espirituais supra-humanas e infra-humanas enquadravam o homem numa ordem cósmica que se traduzia em ordem social sob a noção geral de "destino". No monoteísmo judaico-cristão, a leitura dos símbolos torna-se mais sutil e ao mesmo tempo mais exigente, instaurando o compromisso da "fé" e a luta permanente do homem para permanecer integrado na ordem divina. A terceira cultura, ou "terceiro mundo" está se formando bem diante dos nossos olhos, e sua diferença das duas anteriores é radical: pela primeira vez na história humana, as elites culturais tentam construir uma ordem social sem ordem sacra, ou melhor, contra toda ordem sacra. O experimento, enfatiza Rieff, é inédito. Comentando o livro na Intercollegiate Review, R. R. Reno, especialmente qualificado para analisar o assunto por sua experiência anterior em Ruins of the Church: Sustaining Faith in an Age of Diminished Christianity (2002), observa que se trata de impor a toda a humanidade o uso de remédios jamais testados. Os princípios da nova civilização podem-se resumir em três enunciados: 1) Toda proibição é proibida.2) Toda repressão deve ser reprimida.3) A única verdade é que não existe verdade.Nesse quadro, a própria razão é condenada como repressiva, e automaticamente o privilégio de credibilidade é transferido a símbolos de prestígio ("papéis teatrais") associados ao poder "libertador" da satisfação narcísica. A própria "ciência" já não funciona como conhecimento racional, mas como estereótipo publicitário encarregado de legitimar os desejos da multidão, ou os da elite injetados na multidão.As práticas culturais da nova sociedade, que Rieff exemplifica e analisa extensamente, copiam as da terapia freudiana, mas não para curar a alma e sim para esvaziá-la de todo sentido de vida. A "liberação" geral desemboca no niilismo. "Onde nada é sagrado, não existe nada."O problema com as análises de Rieff é que elas abrangem somente o panorama ocidental. A conseqüência inevitável é que tendem a aceitar como novo padrão civilizacional mundial aquilo que, visto desde outra perspectiva, pode ser apenas a transição rápida e fulminante de uma ordem social fundada no judeocristianismo para outra de base islâmica. A emergência da cultura niilista pode ser datada, sem erro, do iluminismo francês. O "culto da Razão" como fundamento de uma civilização mais feliz e mais livre baseada no esclarecimento científico é apenas uma idéia popular, que não corresponde em nada à verdade histórica do iluminismo. Não apenas o século XVIII francês foi mais povoado de superstições, bruxarias, ritos esotéricos e sociedades secretas do que qualquer etapa anterior da história ocidental, como também os abismos de incongruência no pensamento dominante da época inspiraram a Goya a sua famosa gravura "El sueño de la razón produce monstruos". Nos escritos de um Voltaire, de um Diderot, de um Montesquieu, os estudiosos vêm descobrindo padrões de descontinuidade e desequilíbrio que raiam a loucura pura e simples. Como observou Paul Ilie no monumental The Age of Minerva (2 vols., Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 1995), mais que a época da razão o iluminismo foi a época da ruptura radical entre a razão e os sentimentos, estes expressando-se em delírios passionais que pareciam emergidos diretamente do inferno, aquela em simulacros de ordem que celebravam indiretamente a onipotência do caos. Paul Hazard, em La Pensée Européenne au XVIIIe. Siècle, mostrou que a receptividade dada à crítica antitradicional intelectualmente sofisticada foi devida menos à aparente racionalidade de seus argumentos do que à atmosfera preparada por uma incrível inundação de piadas e lendas anti-religiosas, de uma baixeza e vulgaridade à toda prova, que já circulavam desde muito antes dos panfletos de Voltaire e Diderot. Boa parte da obra destes últimos (já mencionei aqui o caso de La Réligieuse, v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/ 070108dc.htm) não fez senão beber nessa fonte espúria e dar-lhe um verniz de respeitabilidade literária. Corroendo a fé pública nos símbolos e instituições tradicionais, o iluminismo desembocou não só na loucura genocida do Terror, mas nos sangrentos delírios pornográficos do marquês de Sade, que vieram a exercer contínua atração hipnótica sobre a imaginação francesa até Jean-Paul Sartre e Georges Bataille (v., deste último, L’Érotisme: "Do erotismo pode-se dizer que é semelhante à morte"). O mergulho final do intelectual francês no submundo do marquês de Sade tomou forma, não literária, mas biográfica, em Michel Foucault, escravo das drogas e devotamente empenhado em "transcender o sexo" mediante o sofrimento físico em rituais de flagelação masoquista, com algemas, chicotinho, cuecão de couro e tudo o mais (não sei se é para rir ou para chorar, mas leia a história completa em Roger Kimball, "The perversions of Michel Foucault", na revista The New Criterion, http://www.newcriterion.com/archive/11/mar93/foucault.htm). A inspiração niilista do movimento revolucionário pode ter sido obscurecida por um breve momento graças à ascensão da utopia proletária, mas sua natureza profunda não demorou a aparecer de volta sob a forma de montanhas de cadáveres, um acúmulo impensável de sofrimento humano, resultando enfim no fiasco da URSS e nos arranjos capitalistas do comunismo chinês. A desilusão com o comunismo soviético e chinês produziu o imediato retorno aos motes do iluminismo francês, com a nova divinização da "ciência" e a mais virulenta campanha anti-religiosa de todos os tempos, subsidiada por verbas milionárias, fortemente amparada pela indústria do show business (O Código Da Vinci, O Corpo, e agora O Túmulo de Jesus), abrilhantada por ídolos pop da divulgação científica como Richard Dawkins, Daniel Dennet e Sam Harris e coroada por uma sucessão impressionante de legislações repressivas promovidas diretamente pelos organismos internacionais e voltadas contra a expressão pública da fé. Injetada num ambiente previamente preparado pelo "politicamente correto", e coincidindo no tempo com a nova onda de anti-semitismo europeu e com a matança generalizada de cristãos nos países islâmicos e comunistas, a campanha dá um passo enorme no sentido da extinção do legado civilizacional judaico-cristão e na instauração mundial da social-democracia laica, o prêmio de consolação dado pela elite globalista à esquerda mundial pelo fracasso do comunismo russo-chinês. Ora, a absoluta incapacidade da socialdemocracia laica de resistir à invasão cultural islâmica já está mais do que demonstrada na prática. Nem vou insistir nisso. Os interessados que leiam Eurabia: The Euro-Arab Axis, de Bat Ye’or (Farleigh Dickinson University Press, 2005), The Death of the West, de Patrick J. Buchanan (St. Martin’s Press, 2002) e The Abolition of Britain, de Peter Hitchens (Encounter Books, 2000), só a título de exemplos.A fraqueza incurável daquilo que um dia foi "o Ocidente" provém do fato de que, esvaziados do conteúdo vital que recebiam da tradição judaico-cristã, os princípios mesmos que induzem os intelectuais europeus a defender seus países contra a tirania islâmica – a modernidade, a razão científica, a democracia, o progresso capitalista, a liberdade de expressão, o primado do consumidor e os confortos da previdência social – se tornam instrumentos de corrosão das identidades nacionais e da capacidade de autodefesa cultural. E de há muito os estrategistas islâmicos já perceberam isso, senão não teriam podido conceber a "guerra assimétrica" nem o uso maciço da imigração como arma de combate.O protesto melancólico de Oriana Falacci, bradando contra o fim da Europa e nada podendo alegar em favor dela exceto seu amor pessoal às delícias da modernidade, soa tão fútil e impotente ante as exigências morais avassaladoras da autoridade islâmica que se torna o símbolo mesmo de uma civilização agonizante. O que sobra no fundo do niilismo é o hedonismo, mas seria vão tentar construir – ou defender – uma civilização com base nele. O hedonismo atrai interesses, mas não é fonte de autoridade. Ele próprio é niilismo em versão light. Anúncios de restaurantes nada podem contra o vigor do protesto islâmico. Mas a força da invasão islâmica não repousa só na fraqueza do adversário. Há um poder efetivo, "positivo" por assim dizer, intrínseco à mensagem islâmica, que a torna especialmente capacitada a apropriar-se de um corpo civilizacional debilitado pelo niilismo. É que o próprio Islam tem um fundo "niilista". Mohammed destruindo os ídolos da Kaaba é o advento de um monoteísmo abstrato que varre do planeta os símbolos visíveis do divino e os substitui pelo culto disciplinar do absolutamente invisível. A proibição radical das imagens equivale a uma política de terra-arrasada espiritual onde só o que sobra para atestar a presença divina é o apelo auditivo de um substantivo abstrato (Allah não significa propriamente "Deus", nome próprio, mas "a divindade"). Nas mesquitas, o equivalente ao altar é o mihrab, um espaço vazio cavado na parede, designando a divindade eternamente ausente e inalcançável. No Islam não existe nem o povo eleito, atestando através da história a continuidade da profecia, o diálogo permanente entre o homem e Deus, nem a Encarnação pela qual o divino habita entre nós como nosso igual e nosso irmão. O ciclo da profecia está encerrado: Deus falou pela última vez a Mohammed e não falará mais até o fim dos tempos. O silêncio só é rompido pelo chamamento dos muezzins no alto das mesquitas, convocando a humanidade a prosternar-se ante o eterno Ausente que, ante a nulidade da Terra, se torna o único Presente. E Deus, segundo o Islam, jamais esteve entre nós: foi apenas uma aparência, ou melhor, uma aparição. Nobre e espiritual o quanto se queira, mas aparição. Lâ-llláha-íla-Allah, "não há deus exceto Deus" – tudo o mais é, a rigor, inexistente. Só existe Deus, inapreensível e incorpóreo – e, do outro lado, o Nada. Num mundo esvaziado pelo niilismo, o Islam se torna a única religião viável. Continua portanto válida – não obstante erros de detalhe, concernentes por exemplo à China –, a análise feita em 1924 por René Guénon (ele próprio um muçulmano) em Orient et Occident, segundo a qual o Ocidente só teria, daquele momento em diante, três caminhos a escolher: a reconquista da tradição cristã; a queda na barbárie e em conflitos étnicos sem fim; e a islamização geral. Os que pretendem defender o Ocidente na base do laicismo ou do ateísmo só concorrem para fortalecer a segunda alternativa, ante a qual a terceira pode surgir, mais dia menos dia, até como alternativa humanitária. A "civilização laica" não é uma promessa de vida: ela é a agonia de uma humanidade declinante que, um minuto antes da morte, terminará pedindo socorro ao Islam.
P. S. – Recuso-me terminantemente a escrever “Islã”, com til, uma aberração ortográfica inaceitável.
Publicado pelo Diário do Comércio em 05/03/2007

8.3.07

Ser mulher no séculos XXI é...


Dia Internacional da Mulher

Redação Central, 8 mar (EFE).- O Dia Internacional da Mulher foi celebrado hoje com poucos incidentes no mundo todo, quando as mulheres se dedicaram mais ao trabalho do que às manifestações.Mas não faltaram reivindicações de igualdade social e laboral com os homens e pedidos pelo fim da violência machista.Os únicos distúrbios ocorreram nas Filipinas, onde a Polícia impediu à força uma manifestação que seguia em direção ao palácio de Malacañang, em Manila, residência da presidente Gloria Macapagal Arroyo.Também houve um protesto no acampamento de refugiados de Kalandaia, entre Jerusalém e Ramala, onde centenas de palestinas e judias pediram o fim do embargo econômico internacional contra o Governo palestino e a proteção dos direitos femininos.A batalha das palestinas é dupla: contra a ocupação israelense e por seus direitos, disse à imprensa a ativista de direitos humanos Fadua Jader.No outro lado da divisa, a situação das mulheres melhorou nos últimos vinte anos, mas continuam ganhando salários mais baixos, reconhece um relatório divulgado hoje pelo Escritório Central de Estatísticas israelense.Enquanto isso, o Dia da Mulher gerou medidas positivas em países onde a tradição islâmica marginaliza as mulheres, como a Argélia, onde um decreto presidencial reduziu em um ano as penas das reclusas, e o Irã, onde 30 prisioneiras foram libertadas depois de protestar contra um julgamento de ativistas de direitos humanos.Além disso, as mulheres tiveram direito hoje a viajar de graça no primeiro vôo entre Grozni, a capital da Chechênia, e Moscou desde a explosão da guerra na república russa, em 1994.Mas apesar desse tipo de medidas leves, a situação feminina continua sendo muito grave em vários países, como lembraram as Nações Unidas.O coordenador da ONU na China, Khalid Malik, advertiu hoje que a desigualdade de sexos na China, onde nascem 118 meninos para cada 100 meninas, reflete uma "atitude social" - a preferência por filhos varões - que "pode ter sérias conseqüências no futuro".O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, incentivou hoje o Conselho de Segurança a estabelecer um mecanismo de controle da violência machista, o outro grande inimigo da mulher, além da desigualdade social e laboral em relação aos homens.Sobre a diferença no âmbito profissional, a vice-secretária-geral da ONU, Asha-Rose Migiro, afirmou que o próprio organismo é um mau exemplo, pois nos últimos oito anos, a percentagem feminina ocupando altos cargos só cresceu 0,35% anualmente.Para acabar com o desequilíbrio, um grupo de parlamentares suíças aconselhou que "cessem as queixas" e se aumente a participação feminina na vida política.A presidente do Chile, Michelle Bachelet parece concordar com a idéia. Disse que, com sua vitória eleitoral, as chilenas chegaram à política "para ficar" e "a igualdade entre homens e mulheres deixou de ser um sonho no Chile".Mas a situação não se estende ao resto da América Latina, como no Paraguai, onde centenas de camponesas se manifestaram hoje."Exigimos que o Estado implemente políticas sociais para o acesso à educação gratuita e de qualidade, saúde universal sem discriminação, moradia, terra, emprego digno, e rejeitamos a violência e a discriminação contra as mulheres", disse Dora Flecha, uma das ativistas, durante a manifestação no centro de Assunção, a capital paraguaia.Outra camponesa, que deixou sua casa porque sofria violência doméstica, foi escolhida a Mulher do Ano na Colômbia, onde tanto o presidente Álvaro Uribe como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estiveram de acordo pela primeira vez, ao parabenizar as mulheres por seu dia."A liderança da mulher é indispensável para derrotar a corrupção, a ineficiência e a violência na vida pública colombiana", manifestou Uribe sobre as colombianas, cumprimentadas pelas Farc "com imenso carinho revolucionário".Na América Central, centenas de mulheres marcharam hoje por San Salvador, em El Salvador, para pedir o fim das agressões machistas e a discriminação, enquanto em Tegucigalpa, em Honduras, várias organizações feministas exigiram da Corte Suprema a "efetiva" aplicação da Lei contra a Violência Doméstica.Reivindicações idênticas também ocorreram hoje em lugares tão distantes como Guiné Equatorial e Bruxelas - onde o Comitê de Produtores Europeus (CPE) e a Coordenadoria de Organização Agrícola e Pecuarista espanhola (COAG) denunciaram a "insegurança jurídica e econômica" da mulher no meio rural.Na Guiné Equatorial, a ministra de Integração da Mulher, Eulalia Nvo, pediu durante um ato público que os homens não pratiquem "maus-tratos físicos, psíquicos, ambientais e emocionais contra as mulheres, pois tais comportamentos não lhes fazem bem, mas, pelo contrário, as rebaixam."