27.3.07

O terror segundo John Updike

O escritor americano John Updike tornou-se conhecido como cronista da medíocre vida dos americanos de classe média, especialmente os moradores das cidades secundárias do Leste. Tal interesse, porém, nunca desviou seu olhar da realidade, que surge de forma impactante na maioria de suas histórias. Assim, após a reviravolta mundial provocada pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, ele se voltou para a incômoda reação islâmica - não como um simples crítico, mas principalmente como um intelectual interessado em descobrir as causas de tanto atrito, sem jamais esquecer o ponto de vista do outro.
Tanto interesse resultou no romance "Terrorista", surpreendente obra que chegou nesta semana às livrarias brasileiras, em edição da Companhia das Letras (336 págs.). Continua ali seu interesse em traçar um panorama da vida dos americanos comuns, especialmente suas pequenas paixões e misérias. Updike, no entanto, escolheu como protagonista Ahmad, um adolescente filho de mãe irlandesa e pai árabe, que se converte ao Islã e, aos poucos, é atraído pelo mundo do terrorismo internacional.
'Hoje vivemos em um mundo que não oferece aos jovens razões suficientes para viver', comentou Updike em entrevista ao Estado, realizada por telefone, desde sua residência em Arizona. De fato, com o desalento provocado pela educação falha, o escritor faz com que a atenção do jovem Ahmad seja disputada por dois mentores.
De um lado, o orientador educacional de sua escola, Jack Levy, um judeu nada religioso, desgostoso com a própria vida, mas que o aconselha a seguir os estudos até a faculdade. Do outro, o xeque Rashid, imã da mesquita freqüentada pelo rapaz, religioso vinculado ao terrorismo internacional que o convence a entrar no combate, participando de um atentado suicida. A rejeição do capitalismo e dos valores da sociedade americana movem a história, cujo final, tal qual um thriller, caminha para uma surpresa.

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