22.3.07

Escolas britânicas contra o véu


As autoridades britânicas, até então muito liberais em relação ao uso do véu, decidiram nesta terça-feira divulgar diretrizes que autorizam claramente os diretores de escolas a banir o niqab, o véu integral, em meio a vários processos.
O sistema escolar britânico, que aceita o uso do hidjab, o véu que deixa a face descoberta, teve que se adequar aos processos na justiça após um estabelecimento ter proibido uma aluna de 12 anos de usar o véu integral, que deixa de fora apenas os olhos.
"As escolas devem agir razoavelmente para se adaptar às exigências religiosas, com a condição de que não representem uma ameaça para a segurança e o aprendizado, ou não comprometam o bem-estar de toda a comunidade escolar", informou o departamento para educação e talentos.
Estas diretrizes, que pedem também que escolas não adotem uniformes muito caros, esclarecem a situação, explicou uma porta-voz do departamento, afirmando que os diretores de estabelecimentos continuam livres para proibir ou não o niqab.
As novas diretrizes serão aplicadas às escolas públicas e, inclusive, às escolas religiosas, mas não às escolas particulares.
O documento informa que as escolas podem banir o uso do véu se este impedir "um professor de avaliar a atenção de uma aluna".
"As escolas devem ser capazes de identificar os alunos para manter a ordem e identificar intrusos", revela o documento.
Massud Shadjareh, presidente da Comissão Islâmica dos Direitos Humanos se declarou consternado por essas diretrizes.
"Aplicar as diretrizes contra as comunidades muçulmanas é simplesmente chocante", declarou.
O Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha (MCB), que fornece suporte à maior parte das associações muçulmanas do país, havia divulgado suas próprias recomendações às escolas em fevereiro.
Ele sugeria que os alunos muçulmanos fossem autorizados a usar barba ou vestimentas islâmicas para permitir a melhor expressão de suas práticas religiosas.
Os desejos dos muçulmanos não são mais levados em consideração pelas escolas públicas em relação ao programa de educação sexual, à presença de vestiários individuais, aos tempos de oração, às refeições halal ou às aulas de natação, considerou o Conselho.
John Dunford, secretário geral do sindicato de professores ASCL, saudou a iniciativa das autoridades, frisando que a análise destas diretrizes pelas escolas permitirá a elas "conseguir esclarecimentos a respeito do uso dos véus ou de outras vestimentas religiosas".
O debate sobre o uso do véu foi iniciado em outubro de 2006 pelo ministro das Relações Exteriores, Jack Straw, que havia declarado não se sentir à vontade em relação ao uso do niqab pelas mulheres.
Ele ganhou força com o caso de Aishah Azmi, uma professora auxiliar britânica, suspensa em 2005 por ter se recusado a retirar seu niqab em classe.
A escola na qual lecionava considerou que as crianças não compreendiam Azmi por ela usar o niqab. Ela perdeu um primeiro recurso no Tribunal do Trabalho em outubro e sua apelação está sendo examinada.
O debate chegou ao seu ponto máximo em fevereiro quando a Alta Corte de Justiça apoiou a decisão de um colégio de Birmingham de proibir o uso em sala de aula do niqab por uma aluna de 12 anos, que tornou sua comunicação com os professores mais complicada.
Outras escolas britânicas ainda autorizam o niqab e adaptaram sua política de uniformes para aceitar o uso do vestido islâmico e das túnicas.

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