29.3.07

O ela da Al Qaeda no Brasil!


Na manhã de segunda-feira, 4 de dezembro de 1995, o egípcio de Ashraf Refaat Nabih Henin se apresentou na alfândega do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, com um passaporte paquistanês (113107), expedido pela Embaixada do Paquistão em Abu Dhabi 17 meses antes. Turista — informava o visto de entrada (número 194-95) concedido pela embaixada brasileira em Kuala Lumpur, Malásia. No mesmo aeroporto embarcou em outro avião, rumo a cidade de Foz do Iguaçu (PR), na fronteira do Brasil com o Paraguai e a Argentina, onde foi recebido com deferência e hospedado por Khaled Razek Al-Sayd Tak el-Din, o chefe religioso da comunidade sunita.
Por 20 dias, até a véspera do Natal de 1995, Henin fez parte da paisagem como mais um muçulmano em férias nas Cataratas, a dez mil quilômetros de distância do seu escritório na Konsojaya Trading Company, empresa malaia especializada na exportação de óleo de palma para o Afeganistão. Sete anos depois descobriu-se que se chamava Khalid Sheikh Mohamed, o real entre os 27 nomes em passaportes de origem variada, e era o chefe militar da al-Qaeda de Osama bin Laden. Foi ele quem coordenou os ataques às Torres Gêmeas, em Nova York, e à sede do Pentágono, em Washington. Capturado em 2003, está preso na base americana em Guantánamo, Cuba. A Konsojaya era uma das poucas coisas autênticas no disfarce de Henin, criado por Khaled. Nascera um ano antes, pelas mãos de Riduan Isamuddin, também conhecido como Hambali, e sua mulher Noralwizah Lee Abdullah, uma sino-malaia. Isamuddin, ou Hambali, recém-fundara a Gamaa al-Islamiyah, grupo radical do Egito.Na diretoria da empresa instalou, oficialmente, dois afegãos e um saudita, Yemeni Amein Mohamed, todos integrantes da Gamaa al-Islamiyah.
A ligação entre o chefe militar da alQaeda e o líder sunita el-Din foi registrada em documentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) repassados a governos da região — atesta Carlos Corach, ministro argentino do Interior nessa época. El-Din, orador inflamado, nunca ocultou na comunidade sua militância com organizações egípcias como Irmandade Muçulmana e al-Islamiyah, duas vertentes da origem da rede alQaeda. Também não negava ser um representante do Hamas na tríplice fronteira. Com a ajuda de Khaled Sheik Mohamed ajudou a criar a sucursal local da Holy Land Foundation (Fundação Terra Santa), entidade beneficente listada pelo governo dos EUA como uma das fontes de financiamento do grupo de Bin Laden. Suspeito de ataque foi preso em Chuí. Quatro anos mais tarde, em janeiro de 1999, agentes dos órgãos de segurança de Brasil, EUA e Uruguai cercaram o cidadão egípcio Al-Sa’id Ali Hasan Mokhles em Chuí (RS), quando tentava atravessar a fronteira com documentos falsos (carteira de identidade paraguaia 3.593.929 em nome de Ali Subhi AlShakaki, emitida em 12 de julho de 1994).Mokhles foi preso sob acusação de participar no atentado dos grupos Gamaa Islamiyah e Jihad Talaat al-Fath em Luxor, no Egito. Ali, junto a edifícios milenares, foram metralhados 62 turistas. Com a extradição pedida pelo governo egípcio, Mokhles contou a razão daquela viagem interrompida: ia a Londres, por Montevidéu, para uma reunião da Gamaa Islamiyah. Anos depois descobriu-se que nessa reunião foi sacramentada a união do grupo com Bin Laden, formando a rede al-Qaeda.Mokhles permaneceu meses preso A ligação entre militar da allíder sunita registrada documentos preso no Uruguai até ser extraditado. Seu caso levou o governo uruguaio a mudar as leis sobre terrorismo.
Na comunidade muçulmana de Foz do Iguaçu foram impactantes as revelações sobre o seu ativismo político e negócios obscuros. Mokhles era casado com uma irmã do líder religioso sunita el-Din. Estavam associados em vários empreendimentos. Meses mais tarde, el-Din foi cercado em outro ponto da fronteira Brasil-Paraguai, na cidade de Encarnación. Ele escapou e, supostamente, agora vive em São Paulo.
A devassa nos negócios de Mokhles na tríplice fronteira mostrou ligações com o caixa do “clã” Dahroug.Por anos Mohamed Dahroug manteve uma perfumaria em Ciudad del Este, com capital registrado de US$ 800.Mas fez remessas superiores a US$ 10 milhões, por bancos de Foz, para contas da Holy Land Foundation no Texas. Parte do dinheiro foi destinada ao Hamas e à al-Qaeda, conforme consta na investigação aberta pelo FBI e pela promotoria de Dallas.Doações para família de ‘mártir’. O nome do “clã” Dahroug também reluzia em uma das agendas encontradas com Abu Zubaydah, preso pela CIA no Paquistão em 2002. A prisão de Zubaydah chegou a ser publicamente comemorada pelo presidente George W. Bush como a primeira grande ofensiva sobre a cúpula da al-Qaeda. Mas o exame de seus objetos pessoais, inclusive um diário, revelou que ele era apenas uma espécie de agente de viagens do grupo de Bin Laden e portador de graves problemas psicológicos — como tripla personalidade. O confronto dos dados encontrados em dois extremos do planeta, Paraguai e Paquistão, mostrou um sobrinho de Mohamed Dahroug, o comerciante Ali Nizar, residente em Foz, como autor de várias remessas a partir de uma sociedade com Hattem Barakat. Hattem é parente e sócio de Assad Ahmad Barakat, que foi preso no Brasil e extraditado para Assunção em 2002, onde cumpre pena por lavagem de dinheiro. Para os EUA, Barakat foi um tesoureiro do Hezbollah na América do Sul. Supostamente coordenou remessas em soma superior a US$ 150 milhões num período de sete anos.O “clã” Barakat mantinha negócios com Sobhi Mahmoud Fayad, também residente em Foz. Condenado a seis anos de prisão no Paraguai, por evasão fiscal, Fayad já cumpriu dois terços da pena e, agora, pleiteia liberdade condicional. Entre seus documentos foi encontrada a prestação de contas da organização “O Mártir”, criada pelo falecido aiatolá Khomeini depois da guerra Irã-Iraque. Ela custeia a manutenção das famílias de “mártires” da guerra iraniana e, também, da guerra palestina (veja reprodução ao lado). Hattem Barakat é respeitado nos grupos radicais da região por sua proximidade com o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. Registros dos órgãos de segurança do Paraguai indicam que, em janeiro de 2001, Hattem foi hóspede de Nasrallah numa das residências do chefe político libanês, em Bourj Hammoud.Desde então, parte dos negócios dos Barakat foi dirigida em parceria com o indiano Rajkumar Naraindas Sabnani, proprietário de empresas em Hong Kong, Praga, e escritórios em Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Buenos Aires. Naraindas é procurado pela Justiça paraguaia por pirataria e contrabando, entre outras atividades atribuídas à máfia de Hong Kong na tríplice fronteira.

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